CAROLINNE AQUINO

Quem é você?

Me chamo Carolinne, tenho 22 anos e cresci na zona norte de São Paulo, onde moro até hoje. Me formei em moda, mas não gosto muito de lidar com isso. Meu interesse maior é poder utilizar diferentes técnicas e materiais, como gravura, ourivesaria, desenho, fotografia, resina, madeira, etc, para fazer objetos diversos e comunicar visualmente coisas que gostaria de compartilhar e/ou discutir.

Quando você está com uma Polaroid na mão, o que atrai seu olhar?

Em 90% das vezes tento criar a condição perfeita, ou o mais próximo possível disso, pra alguma foto que eu tenha pensado antes ou, se envolver mais pessoas na ideia, que tenhamos pensado juntas. Acaba sendo tudo planejado, e geralmente demoram dias, semanas, meses até, pra que a ideia vire uma foto, uma série. É bem difícil eu sair com uma Polaroid ou qualquer outra câmera no dia-a-dia, fico com um pouco de preguiça de ficar procurando o que fotografar, pra ser sincera. Hoje em dia acabo tirando poucas fotos por causa disso, inclusive com o celular, mas tem sido melhor, acho. Até rola tirar algumas fotos meio que do nada, nas raras vezes em estou com a Polaroid sem um motivo específico, mas não é muito frequente eu ficar inteiramente feliz com esses resultados.

Quais histórias você quer contar?

Depende dos projetos e necessidades do momento. Eu tinha crises de ansiedade bem fortes na época em que comecei a tirar polaroids com mais frequência, em 2016, e as fotos [da série p&b de autorretratos] foram importantes pra que eu conseguisse externalizar como me sentia, já que eu ainda não tinha voltado a fazer terapia. Essas fotos também foram importantes pra que eu entendesse o modo como me comportava em frente à câmera, porque odiava que outras pessoas tirassem fotos minhas. Eu me sentia muito vulnerável, e isso acabou afetando a forma que eu me retratava, então também foi um exercício nesse sentido, de posar assumindo minha vulnerabilidade. Depois disso tirei algumas fotos esparsas, fiz outras pro meu TCC, umas pra marca de um amigo, a Greg Joey, em que acabei posando também, uma série com meu amigo Lucas Affonso, que é um fotógrafo maravilhoso, e aí o interesse enveredou pra releituras. Meu namorado, Rayllon, e eu agrupamos referências de obras de arte, cenas de filme e capas de cd de diferentes períodos e as reencenamos, usando objetos que tínhamos disponíveis. Ainda tenho uma série de releituras por fazer, são autorretratos, novamente, então dá pra dizer que o interesse atual tá em juntar várias referências e recontextualizá-las, criando novas narrativas que toquem questões contemporâneas. Depois disso, ainda não sei. As histórias a ser contadas vão mudando com o tempo, não tem uma vontade muito fixa, nesse sentido.  

Dentre as fotos que você tirou, qual sua preferida? Que história ela conta?

Uma foto em que estou vestindo um macacão impermeável de tyvek e meu rosto está pintado de rosa. Fiz essa foto pro meu TCC que, entre outros assuntos, abordou o vestuário de trabalho, em especial EPIs. Uma das referências visuais, que nada tinha a ver com roupas e acessórios de segurança, mas era importante pra outro ponto do TCC, era uma foto do Miles Aldridge, Immaculée #1, em que a modelo posava como uma Santa e parecia feita de cera, por causa da maquiagem. A ideia inicial era refazer a maquiagem de Immaculée #1 pra posar junto com o macacão, mas na hora em que montei tudo para a foto, improvisei um fundo infinito com um rolo de papel pra modelagem e apoiei a câmera numa pilha gigante de livros pra ter a altura perfeita para o enquadramento, me dei conta de que não ia obter o resultado que gostaria porque não sabia maquiar daquela forma nem tinha todos os produtos necessários. Nisso, tive de repensar e escolher algo que seria significativo pro TCC e se destacasse na foto ao mesmo tempo, e acabei optando por pintar o rosto inteiro de rosa, em referência à única cor da cartela que não tinha uma justificativa que partisse do vestuário de trabalho, e que também é a cor das lonas usadas em Surrounded Islands, do Christo e da Jeanne-Claude, que também cito na monografia. No fim, o resultado ficou melhor do que a ideia inicial, acredito. O rosto pintado trouxe um peso maior, e de quebra teve um erro doido que manchou as duas laterais da foto, deixando o meio em evidência. São elementos contrastantes combinados em uma pose austera.

E nas fotos da Fugaz, qual sua preferida?

Pode ser uma série? As fotos do filme que expirou em 1999.

O que te influencia?

Livros, filmes, artistas mulheres que se autorretratam e suas produções, coisas cobertas, amontoadas e agrupadas, materiais de construção e a abertura de Chef’s Table.

O que é diferente sobre fotografia instantânea?

O tempo e os eventuais erros surpresa.

Como essa experiência afetou seu processo criativo?

Sempre fico um pouco transtornada quando não chego no resultado esperado das coisas que faço, aí vou refazendo até que o objeto em questão me agrade, ou algo perto disso. Com a Polaroid isso acaba se tornando inviável, por causa do preço mesmo. Ainda que tenha todo um cuidado pra produzir e tirar uma foto, erros acabam acontecendo, e são bem recorrentes, então ao longo do tempo aceitei que não tinha como controlar e prever tudo e tomar os erros como parte do resultado final. No fim das contas tem uns erros que até melhoram as fotos, e tudo certo.

Um comentário em “CAROLINNE AQUINO

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s