Com o 8-bitch foi amor à primeira entrada no perfil do Instagram. Tava na cara que eles tinham muito do que a gente queria trazer pra Fugaz, essa falta de pudor entre arte, cidade, entre o pop e o intelectual. É tudo isso ao mesmo tempo! Eles ocupam e, na verdade, redefinem o espaço público de uma forma que transpõe barreiras entre tempo, plataformas, idades. Essa ousadia nos deixou intrigados e, claro, apaixonados.
Quem são vocês?
Somos Maria Carol e Luca Bastolla. Há mais de 4 anos a gente se conheceu e desse encontro nasceu a vontade de intervir nas ruas. Acabou que a nossa história se confunde com a história da nossa arte. Foi em 2014, no Rio de Janeiro que criamos o 8-bitch project e, desde então, passamos a criar pequenas narrativas urbanas, sempre que saíamos pra colar nossas coisas na rua. Há exatamente um ano, passamos a abrir nossos processos artísticos e criativos enquanto interagimos com a cidade e seus personagens em um canal no Youtube, que resolvemos chamar de “life is a bit”.
Quando vocês estão com uma Polaroid na mão, o que atrai o olhar?
A Polaroid tem um lance afetuoso para gente e ao encontro de um dos temas que trabalhamos em nossas obras: a nostalgia. Não só no conceito, mas em como sentimos o processo todo. Capturar um momento com a Polaroid é sempre algo único e original. Com ela podemos transformar um recorte do tempo em algo físico. A sensação é a de estar levando mais que um fragmento daquele momento, mas um pedaço do próprio mundo. Quando levamos a nossa arte para a rua, deixamos algo nele. Quando batemos uma foto com a Polaroid, fazemos o inverso. Acabamos levando o nosso olhar para isso. Já pensamos em fazer uma série de retratos, também pensamos em uma série sobre a nossa arte ou sobre a nossa relação com o espaço urbano. Mas, acaba que o que faz apertarmos o botão do disparo na câmera é essa vontade de prolongar para sempre aquela visão.
Quais histórias vocês querem contar?
A nossa ideia é intervir nas fotos que tiramos. Afinal, o processo é tão interessante quanto a própria obra finalizada. A gente chega a achar que ele é a parte mais legal, porque um processo leva a outro processo e é no caminho que as coisas acontecem de verdade. A arte urbana em sua essência é efêmera e a fotografia pode ser a única prova de que um dia ela existiu. A partir do momento em que fazemos uma intervenção na rua, ela já não nos pertence e a única forma de eternizar aquela obra é através da fotografia. Para nós é muito significativo poder dar vida a memória desse rolê todo. Mais que isso, queremos poder dividir parte da nossa rotina e tentar capturar uma parcela do nosso próprio jeito de pensar e viver. Um jeito meio analógico, sabe? Quando juntas, as nossas polaroids contam essa história, como se cada uma fosse um pixel do momento.
Dentre as fotos que vocês tiraram, qual sua preferida? Que história ela conta?
Saímos para fotografar na Paulista num domingo. Era fim de tarde e a luz estava bem linda. Levamos tripé e batemos uma foto nossa na avenida. Nunca gostamos muito de selfies e como estamos sempre só os dois, acaba que temos poucas fotos juntos assim. Foi então, que voltando para casa, vimos uma torre em especial e resolvemos fotografa-la. Há pouco mais de um ano mudamos para São Paulo e essa torre colorida havia se tornado nosso ponto de referência na cidade. Sempre que a vemos, sabemos que estamos perto de casa. Ficamos empolgados! Ainda havia uma pose para bater! Usamos a lente dos óculos escuros para filtrar um pouco da luz e colorir a imagem. Acabou que nada saiu como calculamos.A foto ficou escura numa das laterais onde a lente dos óculos estava mais distante da câmera e o enquadramento também saiu totalmente outro, apesar da gente ter quase deitado no chão. E essa é a nossa foto preferida. Marcamos esse momento como um ponto de virada no projeto, onde sentimos que incorporamos o processo da fotografia analógica.
E nas fotos da Fugaz, qual sua preferida?
Aquelas fotos na sala de casa, na cozinha, numa festa ou na praia. Esse clima é muito fugaz e foi o que conectou a gente. Adoramos as fotos jornalísticas que fazem, mas, foto de família na reunião de pauta? Esse é o sonho que a gente vive daqui junto com vocês daí.
Quais são suas influências?
Os movimentos da arte e da rua. As pessoas que cruzamos dentro desse universo, as histórias que ouvimos e que nos fizeram sentir dentro delas. Conversar sobre a arte e os espaços públicos é também pensar nos lugares da convivência, do respeito e da interação.
O que é diferente sobre a fotografia instantânea?
A fotografia instantânea é um exercício constante de desapego. Depois da foto tirada, nunca haverá um clique que reproduza um outro. Aceitar que só se tem uma chance faz a gente abraçar a diversão no fazer. Existe uma certa magia em acolher o erro, conviver com os defeitos, com o ângulo mal enquadrado, a luz que estourou, a mancha que saiu, o pack de filmes que acabou. É como se houvesse uma distância mais concreta entre quem fotografa e o que é fotografado, entre a intenção e o resultado.
Como essa experiência afetou seus processos criativos?
Trouxe mais liberdade criativa. Normalmente, a nossa intenção tem grande efeito sobre o que fazemos, seja criando nossas intervenções e pinturas, ou mesmo na própria narrativa do conteúdo que fazemos, as ferramentas que usamos tem finalidades muito específicas. A experiência já seria incrível só por isso. Mas, outra parte muito boa é acompanhar o que os outros fugazes estão produzindo e fazer parte dessa troca indireta entre a gente. Chega a ser engraçado, porque apesar de nunca termos conversado com nenhum deles, criamos um espaço de inspiração dentro do que eles estão trazendo nas fotos e a sensação de que nos conhecemos. Esse estilo de vida analógico fugaz veio batendo de frente e bonito no digital, que só armazena e nem sempre comunica. Sigamos fugazes!
