
Já nos inscrevemos para receber a versão completa do estudo realizado pelo Instituto Marielle Franco, com apoio da Terra de Direitos e Justiça Global, que trará ainda mais dados sobre violência coordenada em ambientes virtuais antes do segundo turno. A versão preliminar da pesquisa feita com candidatas negras das eleições de 2020 já está no ar e pode ser vista aqui.
Participaram do levantamento 142 mulheres negras de 21 estados e todas as regiões do Brasil e de 16 partidos. Todas estavam comprometidas com a Agenda Marielle Franco.
No total, 78% das candidatas negras de todas as regiões do país, que responderam à pesquisa Violência Política Contra Mulheres Negras, relataram ter sofrido desde xingamentos racistas em suas páginas até ataques sincronizados em transmissões ao vivo.
Os principais autores das violências são grupos não identificados (45%), candidatos ou grupos militantes de partidos políticos adversários (30%) e grupos anti-feministas, racistas e neonazistas (15%).
Dentre as vítimas de violência, 32,6% relataram ter denunciado, 29% não quiseram denunciar, 17% tiveram medo ou não se sentiram seguras em denunciar e 8% das candidatas, apesar de a pesquisa ser anônima, não se sentiram à vontade para responder às questões.
Entre as candidatas que denunciaram, 31% usaram plataformas digitais e suas próprias redes sociais. Já 29% denunciaram ao próprio partido político e 29% registraram Boletim de Ocorrência (BO) em delegacia comum ou delegacia de crimes de informática.
Apesar da denúncia, 70% não teve segurança para o exercício da sua atividade político-partidária. Além disso, 71% delas, relataram não ter contado com nenhuma formação ou mesmo apoio para entender que medidas de proteção poderiam ajudar a enfrentar ou superar as situações de violência pelas quais passaram.
Segundo Anielle Franco, diretora executiva do Instituto Marielle Franco, a pesquisa tenta retratar o impacto que a violência política tem sob os corpos de mulheres negras candidatas nas eleições de 2020.
“É importante ressaltar que historicamente as mulheres negras que se colocam à disposição para concorrer ao pleito institucional têm sido recebidas por violências e opressões estruturais de raça, gênero e classe. Em nosso estudo, identificamos que quase 8 a cada 10 mulheres candidatas comprometidas com a Agenda Marielle Franco, que responderam essa pesquisa, apontaram que já sofreram algum tipo de violência virtual”, afirma Anielle.
“Por outro lado, do total de mulheres que sofreram violência política nestas eleições, apenas 32% efetuou denúncia. Esperamos que esta pesquisa ajude a visibilizar esse cenário no país e impulsione as autoridades públicas a pensar em medidas efetivas e imediatas de combate a essa violência que afeta mulheres negras das mais diferentes formas”, avalia a diretora.