Comecei o ano trabalhando como produtora nos bastidores de um dos programas mais assistidos no mundo. Para documentar a realidade do backstage nesses 100 dias de Big Brother Brasil, peguei emprestada de uma amiga uma câmera analógica em 35mm.
Nunca imaginei que um dia trabalharia nesse rebuliço que é a televisão. Quando ainda estava no ensino fundamental, li o livro Ludi na TV, da autora Luciana Sandroni. É um dos meus livros preferidos da infância, tenho ele até hoje. Deixo essas fotos para a Clara dos anos 2000 que passou muitas horas assistindo ao canal 4.
O Big Brother Brasil era um desafio que eu já havia traçado como objetivo na minha trajetória no audiovisual. Já conhecia o ritmo da televisão, tendo trabalhado na Globo como produtora-assistente de 2018 a 2020. Durante esse período, fiz novelas, séries e programas ao vivo.
Mas o BBB é algo diferente de tudo, dada a magnitude do seu alcance. É um organismo vivo dentro de outro: a segunda maior emissora do mundo. Um programa no ar há mais de duas décadas, com uma audiência leal e um lucro extraordinário. Queridinho das marcas, se tornou o carro-chefe da Globo em faturamento de publicidade nos últimos anos. Durante os três meses que fica no ar, é sempre um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. É preciso ter muitos departamentos funcionando 24 horas por dia para dar conta de tudo isso.
O departamento em que trabalhei foi o de conteúdo web. Fui uma das produtoras do Rede BBB. A minha rotina de trabalho envolvia contribuir com sugestões de pautas e personagens para os programas Fora da Casa e Bate-Papo BBB. Eu fazia contato com os personagens para convidá-los a participar do programa de forma remota, e a assistência do set (dentro do estúdio de gravação auxiliando a apresentadora durante o ao vivo).
Assim que entrei para o programa, criei uma conta no Twitter e no TikTok só para acompanhar a repercussão do BBB. Passei a assistir análises do programa em canais do Youtube e a ouvir com frequência o Twitter Spaces dos principais comentaristas do BBB nas redes. É impossível saber de tudo na mesma hora, claro, até porque a internet nunca descansa, mas fazia tudo para conseguir ver memes, comentários, discussões e tendências assim que surgiam.
Trabalhar nos bastidores da TV exige muita dedicação, observação e jogo de cintura. Por trás da exuberância, existe uma rotina muito pesada, com longas horas de jornada que se estendem até a madrugada, beirando a exaustão. Muita gente acha que todo produtor sabe de tudo antes do público, que a gente tem algum tipo de influência no programa. Ledo engano com um tiquinho de ingenuidade. Somos funcionários de uma grande empresa, existe uma hierarquia, principalmente de informação. Muita coisa a gente só sabe na hora mesmo.
Sempre atentos, nós produtores buscamos ser ágeis e não apressados. Nem sempre conseguimos, mas é essa a meta! Trabalhamos diariamente com um número muito grande de pessoas para que todos os departamentos funcionem em sintonia. Estamos o tempo inteiro aprendendo sobre alguma área: roteiro, tecnologia, cenografia, arte, logística, alimentação, figurino, caracterização, segurança, transporte, entre muitas outras.
O Presente do Eliminado
Assim que o participante sai da casa, ele é recepcionado pelo apresentador Tadeu Schmidt ao vivo na Globo. Assim que acaba a edição, o eliminado participa do programa Bate Papo BBB com a Rafa Kalimann, transmitido ao vivo na Globoplay. É alí que o participante tem seu primeiro contato com a “vida real” após o confinamento. Em meio a uma conversa descontraída sobre a sua trajetória, fica sabendo dos memes que viralizaram e também recebe em mãos o Presente do Eliminado, geralmente algo que represente a sua passagem pelo BBB.
Essa parte da produção do presente para mim foi a mais divertida e também a mais corrida. Produzimos, ao todo, 20 presentes. Quando chegou a vez do Pedro Scooby, várias possibilidades surgiram durante a reunião de pauta. Entre elas, a ideia de fazer um chapéu bucket com um dos seus muitos bordões. Diversos foram levantados, mas optei pela frase que viralizou logo no início do programa: “A vida é irada. Vamos curtir”, que sintetiza bem a forma como o surfista enxerga a vida.
Depois de aprovado pela gestão, bora correr para produzir a tempo! O bucket era um acessório que ele já usava dentro da casa e escolhemos produzir na cor amarelo canário, que expressa a personalidade solar do carioca. A surpresa foi que ele curtiu bastante e o público também. Acertamos.
Geralmente os presentes são uma brincadeira, uma zoeira, como a cesta de limões que demos para Larissa Tomásia. Mas dessa vez chegamos em um presente que não só era engraçadinho, mas que também tinha tinha o potencial de se tornar um acessório, não só para o Pedro, mas também para quem curtiu ele na casa.
Por fim, produzir os presentes me fez desenvolver mais meu lado criativo e manual. Como uma jornalista e fotógrafa que trabalha com produção há um tempinho, trabalhar com o criativo é sempre um prazer.
Além da corrida maluca de produção, destaco aqui alguns programas que curti bastante o tom da conversa que conseguimos chegar: o Fora da Casa com a dançarina Brunna Gonçalves, no qual fizemos um VT (gravações de vídeos) sobre mulheres que usam Lace. Chamamos também a cantora Rebecca (@rebecca), a criadora de conteúdo Josy Ramos @josyramos) e a Mirella Qualha (@iamirella) criadora de conteúdo e Tik Toker.
Outro que gostei bastante de produzir foi o Fora da Casa com a Linn da Quebrada e a Natália Deodato. Convidamos algumas telespectadoras para dar uma recado de acolhimento e carinho pós eliminação. Entre elas, a cientista social e youtuber Nataly Neri (@natalyneri) e a Carla Akotirene (@carlaakotirene), doutora em Estudos Feministas, Raça e Interseccionalidade, que comentou bastante sobre o BBB 22 nas redes.
FUGAZ 