
Nasceu com outro nome, em um arquipélago no meio do Oceano Índico, no dia 5 de setembro de 1946. Não nasceu no mesmo lugar que seus pais. Eles nasceram na Índia, país ao qual foi mandado, aos nove, para estudar. Passou boa parte de sua infância e adolescência no internato inglês, no vilarejo de Panchgani, em Maharashtra. Foi lá que Farrokh passou para Freddie. O apelido pegou e foi assim que seu primeiro nome mudou. Manteve o Bulsara.
Aos 12, montou sua primeira banda: The Heretics (Os Hereges), retratada na foto acima, uma prévia da personalidade mordaz que lhe tornaria tão característica. Colegas de turma relatam que, já naquela época, suas principais – se não únicas – referências musicais eram ocidentais. Aos 16, retornou à sua família em Zanzibar, que naquele mesmo ano declarou independência e tornou-se uma monarquia constitucional. Mas tudo mudou quando o sultão foi deposto numa revolução e, em 1964, o país uniu-se para formar a Tanzânia. Foi em meio a tudo isso que Freddie, aos 17, buscou abrigo na Inglaterra, seu terceiro e último país.

Aos 21, idade que tinha na foto acima, Freddie parecia já saber quem queria ser, mas talvez não tivesse descoberto o jeito de chegar de A a B. Esse retrato de Freddie, feito anos antes de se tornar o líder de Queen, é importante porque mostra um lado que ele nos permitiu ver pouco. É um outro Freddie, não totalmente à vontade, lembrando de esconder os dentes na hora de sorrir.
Esse mesmo Freddie, no entanto, soube usar o que tinha à mão e nunca recusou trabalho. Teve muitos jobs – uns mais glamurosos que outros. Descarregou malas no aeroporto de Heathrow, teve brechó em Kensington Market, uma galeria que foi demolida em 2003.
Louco por moda, fez bico na faculdade como modelo de nú artístico para conseguir comprar uma calça jeans da Levi’s.


Aos 23, mais ou menos na época em que essa foto acima foi tirada, concluiu sua formação superior e recebeu seu diploma em design e artes gráficas da Ealing Art College.
Colegas da faculdade contam que Freddie vivia cantarolado o que na época chamava de The Cowboy Song – a música do caubói – mas que não conseguia ir além do primeiro verso. “Mama, just killed a man”. era tudo que conseguia compor na época.
Levou sete anos para terminá-la e, aos, 29, a lançou sob o nome de Bohemian Rhapsody.
Conheceu outros músicas na época da faculdade, entre eles o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor, mas passou por umas sete bandas até chegar à Smile. Por saber desenhar, acabou fazendo a logo da banda, que rebatizou de Queen.

A ilustração é uma representação dos signos dos quatro integrantes: dois leoninos (Deacon e Taylor), um canceriano (May) e um virginiano (Mercury).
O mapa astral da banda indica que o ambiente era propício a muita treta, ainda mais considerando que, além de músicos, eram todos compositores.
queen & polaroids












a dança
Em outubro de 1979, Freddie fez uma participação especial no Royal Ballet, a primeira e mais importante companhia de balé do Reino Unido. Ele nunca havia feito nada do tipo antes, mas sempre teve curiosidade em tentar.
Para sua apresentação, acompanhada de uma orquestra ao vivo, escolheu sua obra prima Bohemian Rhapsody e Crazy Little Thing Called Love, a música que famosamente compôs em 10 minutos. Nas fotos, tiradadas um mês antes do espetáculo de ballet, Freddie faz aulas com instrutor profissional de dança.


somebody to love
O irlandês Jim Huttton, nascido e criado no condado de Carlow, conheceu Freddie na Heaven, uma boate gay dos anos 80. Não foi amor à primeira vista; foi melhor.

De acordo com Hutton, que depois escreveu um livro sobre a vida do casal, Freddie chegou nele oferecendo comprar uma bebida e tal, o famoso papinho mole. Jim não o reconheceu de primeira – e rejeitou a oferta.
Nada aconteceu até um ano e meio depois, quando mais uma vez se encontraram na Heaven, e tiveram a chance de fazer tudo de novo. Dessa vez, Jim reconheceu o boy, e aceitou o convite. Começaram a namorar logo em seguida e, eventualmente, foram morar juntos. Jim manteve seu trabalho como cabeleireiro.
Longe dos holofotes, construíram uma vida real, em paz, com uma família de dez gatos e uma paixão mútua por arte. Permaneceu ao lado de Freddie até o dia de sua morte. Em entrevistas à imprensa britância, relatou ter sido expulso por Mary – a Love of My Life – da casa onde viveu com Freddie durante anos. Com o dinheiro deixado a ele por Freddie, retornou a Irlanda, onde morreu em 2010, após uma longa e dura batalha contra o câncer.
O ADEUS

No dia 23 de dezembro de 1991, Freddie divulgou a seguinte nota à imprensa: “Dadas as enormes conjecturas veiculadas pela imprensa nas últimas duas semanas, desejo confirmar que fui testado seropositivo e tenho AIDS. Senti que era correto manter essa informação pessoal até hoje para proteger a privacidade das pessoas ao meu redor. No entanto, chegou a hora de meus amigos e fãs ao redor do mundo saberem a verdade e espero que todos se unam a mim, aos meus médicos e a todos os que estão na luta contra essa terrível doença. Minha privacidade sempre foi muito especial para mim e sou famoso pela minha falta de entrevistas. Por favor entendam que essa política continuará”.
Na noite do dia 24, Freddie morreu em casa, aos 45 anos de idade. Até hoje, fãs do mundo inteiro visitam sua última residência em Garden Lodge, Kensignton, cujas paredes são cobertas de mensagens e graffitis em sua homenagem.
O LEGADO
Lançado em 2018, Bohemian Rhapsody é o filme biográfico musical de maior bilheteria de todos os tempos. Acompanha a vida do vocalista da banda Queen, no período entre 1970, quando se junta a banda, até 1985, com sua icônica performance no Live Aid, no antigo estádio de Wembley, em Londres.
O ator Rami Malek, filho de imigrantes egípcios, ao receber o Oscar por sua interpretação de Freddie Mercury, ressaltou em seu discurso a importância de contar uma história como essa em tempos como esses. A cultura pop, muitas vezes, serve essa função de traduzir a importância de fatos e figuras históricas para novas gerações, o que por sua vez provoca novas ondas na indústria do entretenimento como um todo. O filme contribuiu para alavancar a relevância da própria música nas plataformas do mundo todo.
Composta inteiramente por Freddie em 1975, Bohemian Rhapsody tornou-se oficialmente a música mais tocada do século 20, desbancando Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, e “Sweet Child o’ Mine”, de Guns ‘N Roses. O número de downloads do single e do clipe original – que marcou o início da era MTV – bateu novos recordes ao passar de 1,6 bilhões.
Tem uma cena muito boa no filme em que o executivo da gravadora não vê futuro em Bohemian Rhapsody: “Escute aqui, jovens nunca vão ouvir essa música na rádio e querer cantar junto”, ele diz para a banda.
Nos fez lembrar de uma cena de outro filme: Wayne’s World (Quanto Mais Idiota Melhor), que faz essa mesma referência com humor. Lançado em 1992, um ano após a morte de Freddie, a comédia gerou uma nova onda de popularidade para a música, que até hoje desperta em todos a vontade de cantar junto.
